O QUE RESTA
 

Dos nossos corpos guardei o sal,
Por nosso eterno
Viver,
Na lembrança reinventada
E envenenada pelo tempo.
 

Dos nossos beijos guardei o som.
Por mais que eu queira
Sofrer,
Resta a fé criança
Do homem passado que hoje sou.
 

Dos nossos sonhos guardei a luz,
Por rastros vagos.
Crescer
Por esperança
É o que eu faço sem perceber.
 

Do nosso sangue guardei a fé
Por velhas cruzes,
Valer 
a luta diária,
necessidades de, ainda, acreditar.
 

Dos nossos passos guardei a trilha,
A poeira levantada.
Viver
É saber da terra e do tempo,
Reunindo os restos de nós dois.

(Escrito em 1986)