NA CASA ONDE NÃO HÁ NEM LEONARDOS NEM MONALISAS
no centro da sala
da casa que te dei de presente,
uma arca antiga, uma memória usada, um baú de ossos,
e um sorriso teu, absolutamente constrangido
olhamo-nos como se chegássemos
para brincar de ganhar um jogo de memória de um tempo antigo:
acertaste em cheio quando achaste um exame de gravidez – teu – perdido
[e mais um outro riso, absolutamente constrangido]
dos pergaminhos mofados
trouxemos, de trás, histórias esquecidas,
retratos já sem falas, mortos já sem vida, almas sem mais cais,
e, sem cuba-libres,
[nem hi-fis]
demos um adeus a tudo já tão ido,
– tudo passado –
pois, quando te abri a casa, me dei de presente,
e despejei para sempre a memória usada, o baú de ossos, a arca mais antiga,
[tudo por nós vivido]
e, principalmente, os sorrisos constrangidos.