Desencanto

Desencanta-me a superfície polida do dia,

a lembrança vazia,

o verbo,

o passivo sujeito

Não encontro substantivo em jeito

Ir de compasso, marcar o passo,

ir como quem despe o fa(c)to no acto,

ao correr da vida, no espaçar solto dos ritmos,

como quem vê e não se sabe de ser...

Desencanto-me

Cima-abaixo, não me sou

No sim, no não, no tão,

igual normal misteriosa periferia vou,

não me acho

Vazia a procura

Muda a promessa

Na pressa, o mundo é círculo de gritos

Desencanto-me

O tempo passa a troçar, em baile de redemoínhos,

em vórtices de que saem campos e rios

e palavras e pessoas

O tempo nada me diz

Imperfeito motivo,

feito sem jeito substantivo...

Desencanto-me