Coisas Intocáveis

Coisas Intocáveis

Pela manhã, canta um galo digital.

O sol reluz numa alameda infinita.

Café com leite numa xícara quebrada.

Da sacada também vejo a rua inabitável,

Uma porta velha trancada com um cadeado.

Dentro existe uma piscina em desuso

Refletindo a plantação abandonada

Uma criança sorrindo com bolhas de sabão

Em frente de um quadro de bela imagem,

Uma ponte que faz chegar num zoológico

De rosas mal cuidadas e baldias.

Chegando à beira do lago, cena de piquenique:

Pães, frutas e vinho abençoados.

Por uma oração e um girassol bem amarelo.

Duas pessoas satisfeita de mãos dadas

Perdidas por entre o vão da cidade

Que no passado construíam castelos de areia.

Que agora à beira da praia, tantos réveillons...

Com as mãos murchas lavando os pratos,

Enxugando os pés numa toalha branca

E o colorido a estourar no poder da memória.

Na gravura do tempo o poder da ciência.

Mil experiências coloridas em vidros intocáveis

Que o resultado é uma cor que não existe

Que guardaram num lugar seguro e gelado.

A luz não resiste a escuridão da evolução.

Com esforço, faz sombra na ampulheta que marca mas não vê passar o tempo

Nos fazendo saber que mais um ano findará.

Árvores coloridas, mesa com comida, diplomas e formaturas

Passando nossas vidas com vitórias e agruras

É mágico o tapete do tempo pendurado no armário.

Uma roupa, uma gravata. A porta colada nos retratos

Dos enfeites, perfumes, convites revelados no álbum

De um mundo tão pequeno e valioso

Prendendo nossa história no relógio do calendário.

André Gomes