Vôos ou festa de um corvo

Uns voam com asas de cera e penas

Ou em tapetes mágicos, de tecido ou de palavras;

Outros se afastam da realidade,

Quando vestem suas fantasias

Para desfilar, no carnaval, sua liberdade.

Porque um homem de terno é um corvo.

E um corvo, quando quer se alforriar,

Veste-se de sabiá

E se lança ao céu do carnaval,

A fim de livremente voar.

Quanto maior a gravidade da rotina,

O peso do dia a dia,

Mais difícil é sair do chão;

Portanto, mais louco e frenético deve ser o vôo:

Torna-se mais que urgente entregar-se à ilusão.

Um homem cuja função é redigir

Burocráticas petições e frios relatórios,

Atado num gélido escritório,

Escreve então um samba-enredo

E se faz poeta para gritar sem medo.

O som monótono e arrítmico dos dedos

Trabalhando no teclado se converte na loucura cadenciada

De uma percussão tocando samba;

E a organização estática do escritório transforma-se

No caos de um bloco, que pelas ruas descamba.

Mas é o carnaval uma festa,

Promovida por Baco para Apolo,

Na qual paródias de nós mesmos são reveladas?

Ou será que somos paródias na maior parte do tempo,

E a fantasia, ao invés de nos vestir, nos desnuda,

Tornando aparente a essência sempre camuflada?

Afinal, no carnaval, as máscaras são colocadas ou retiradas?

Apolo é Baco disfarçado ou vice-versa?

Já não sei quando escondemos ou libertamos

Nossas vontades refutadas.

Pedro Oniwlack
Enviado por Pedro Oniwlack em 15/06/2009
Reeditado em 16/06/2009
Código do texto: T1650700
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