TÚMULO
Negra noite.
Carne lacerada.
Verme que trespassa a pele macerada.
Vil herói vendido ao pior bandido;
por um prato de lentilhas entregou-se o
reino;
por um pedaço de torta abriu-se
mão da porta
e ficou-se preso
no calabouço escuro,
no poço úmido
onde a peste abunda.
Escorpiões encardidos que destilam
veneno
na garganta cortada pelo
grito contido.
Oh! cruel desventura!
Oh! indômito espanto!
Espasmo de dor que precede
o pranto
que nunca vem
porque não há ninguém;
não o que ouvir;
não há o sentir;
não sinal do canto;
e tudo é desterro.
Pior do que o tédio.
Muito além da dor.
Pior que sacrilégio.
Que crime cometi?
Para que tanto morrer
de morte tão escorrida
qual escarro que lentamente
goteja da virilha
no prostíbulo lúgubre
além da sanidade,
aquém da existência,
onde o esquecimento é a verdade
que se anseia entre tormentos
de um jorro exasperado
que suplica a letargia
da inércia de um manto
que perpassa a demência
de um último sussurro
que sempre se alongará
p e r p l e x o