Memórias mescladas

“Memórias mescladas”

A pele ainda tinha cor, mas o retrato era em branco e preto

Tons de sépia apagando-se com o tempo

Memórias mescladas

Cabelos brancos

Com pentes de osso que lhe faziam suporte

Dentes de resina

Memórias mescladas

Peles perdendo sua cor

Rugas e manchas

Anéis de ouro velho folgados nos dedos

Memórias mescladas

Ave-marias e salve rainhas

Num rádio de pilha

Fogão encardido

E memórias mescladas

Batatas-doces, beterrabas e sardinhas

Arroz de ontem, feijão de outro dia

Não se pode comer tijolos!

Pães caseiros embolorando

Memórias mescladas

Vestidos: trapos de chita

Chinelas cansadas

Memórias mescladas

Uma cadela sem latido

Um fim tão sem sentido

Um ar com um quê doído

Memórias mescladas

Janelas fechadas

Sem vida as fachadas

Preciosidades guardadas

Lembranças marcadas

Memórias mescladas

...num emaranhado de fotos mentais sobre nada

Sobre tudo

Sobre a vida

Vivida

Sentida

Comprida

Envelhecida

Memórias mescladas

Amores perdidos

Desperdiçados

Jogados ao léu

E o céu está tão longe

O pão e o mel

À mão, mas nem se pode comê-los

Memórias mescladas

De tudo e de nada

Maldito calendário

Memória relicário

Memórias mescladas

(Rodrigo Augusto Prado - 2008)

Rodrigo Augusto Fiedler
Enviado por Rodrigo Augusto Fiedler em 27/06/2009
Código do texto: T1669595