CARREIROS E CARROS DE BOIS

CARREIROS E CARROS DE BOIS

(Dedicado a todos os carreiros do Brasil)

Florianópolis, 21 de abril de 2004

O carro de boi faz parte da história cultural de milhares de brasileiros, notadamente do sertanejo de Minas Gerais e de Goiás, por isto, escrevi este poema, com a pretensão de homenagear todos os carreiros do Brasil, resgatando esta ferramenta de trabalho e trazendo-a à luz do conhecimento das gerações mais novas.

O poema retrata os bois, os acessórios utilizados nos bois, as peças que compõem o carro de boi, a madeira adequada na sua construção, a sua importância, o seu ciclo, o seu fim, com o desbravamento do sertão e a chegada do progresso.

Que saudade do tempo de menino,

Da colheita de feijão, milho e arroz;

Tempo distante, em Buritis, em Minas,

De um carro e de cinco juntas de bois.

Um dos gostos do meu saudoso pai,

Era levantar-se ao romper do dia,

Atrelar ao carro oito ou dez bois,

Ir ao labor, prover pão à família.

Na fumaça do dia, lá estava ele,

Comboio inteiro espalhando poeira;

Mesmo sem ver que levava o progresso

Desbravava o sertão, abria fronteiras.

Em muitas ocasiões, fui o guieiro,

Na frente dos bois, abrindo porteira,

Parando onde tivesse que parar.

Conhecido também de candeeiro.

A escolha dos bois era a olho de lince

E ensinados puxar da guia ao coice;

Obedecendo à risca ao carreiro,

Aguerridos como se gente fossem.

A premissa para um carro ser bom,

Era cantar afinado e nos trilhos

E tinha também que estar apertado

E caber quarenta jacás de milho.

As arreatas de madeira e de couro,

Depois de cada uso, após cada lida,

Eram untadas ao azeite e polidas

E guardadas como se fossem de ouro.

As cangas só de madeira de lei,

Ajoujos, brochas, tudo de primeira,

Os canzis feitos de jacarandá.

Só do melhor, cambões e tiradeiras.

Um carro de boi assim é composto:

De três partes distintas, triviais,

Duas rodas, um eixo, de uma mesa

E que se dividem em outras mais.

As duas rodas se compõem assim:

De quatro cambotas, arreias, dois meões,

Das chapas, dos cravos e engates de aço,

Dando às rodas toda sustentação.

Recai sobre o eixo, a mesa e todo peso,

Cabe-lhe executar esta função,

Girando as rodas que ele sustenta;

Num só tempo, o coração e o pulmão.

A mesa é como se fosse o berçário,

A peça maior é o cabeçalho,

As duas chedas vêm nas laterais,

Além da escora, recavém e assoalho.

São ainda componentes de uma mesa:

Os cocões, chumaços ou cantadeiras,

O pigarro, a chavelha, os fueiros,

Cavilhas, um argolão de aço e a esteira.

Na maioria das fazendas brasileiras,

Esta preciosidade estava lá;

Feita de bálsamo e de sucupira

Ou de outra madeira que a terra dá.

Durou até fins dos anos sessenta,

O ciclo de ouro do carro de boi,

Artigo simples, de grande valor,

Lembrança de um passado que se foi.

Amigos carreiros, heróis do tempo,

Velhos trabalhadores brasileiros,

Nesta história vocês terão assento

E um lugar de honra, grandes guerreiros!

Onofre Ferreira do Prado
Enviado por Onofre Ferreira do Prado em 28/06/2009
Reeditado em 14/09/2022
Código do texto: T1671468
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