Hoje acordei com a poesia
Hoje acordei com a poesia...
Ela estava sentada ao redor de meu leito orando por mim.
Vendo-me acordar, acariciou-me a face num gesto de brandura
como quem me dizia: és minha e sou tua....
Porventura abracei essa amiga de melancolia e ventura,
Arremedando um pacto de eterna lealdade.
Percebo que só ela me compreende
e só ela me escuta,
os seus planos sempre me contemplam...
No seu abraço, ao tempo em que transbordo-me de alegria
esquadrinho também alívio a ininteligíveis paradoxos meus...
Acordei com a poesia que não me deixa envelhecer,
ela estava orando por mim como fazia minha mãe...
Acho que pedia quietude ao meu coração.
Ao ver-me acordar, olhou-me com tamanha candura
como quem me dizia: não desperte agora!
Amiga que é, não quer que desista dos experimentados devaneios.
Acho que só ela me acompanha sem cobrar
e só ela me enxerga o interior...
Acordei com a poesia que me consola,
ela estava rogando em meu nome...
Sabe tudo que se passa,
essa amiga que vive dentro de mim...
Também estava agradecendo a parceria que fizemos no instante em que nasci...
Ela é a projeção de minhas emoções nos outros,
não se apaga, mesmo que às vezes adormeça
confidente amiga com quem falo sem recatos...
Hoje quem me despertou foi o som da poesia
que, ao orar clamando alto por mim,
alto também ecoou sua intensa respiração...
Ao ver que me acordara, pediu que eu sonhasse mais
e fez-me dormir de novo, ninando-me com sua única canção...
Assim, dormindo acordei com tão acolhidos lampejos
e escrevi estes versos sentidos em homenagem a essa amiga,
A poesia que ora por mim, que toca-me a face,
Que me ouve e abraça,
Acalanta-me e comigo se funde e confunde,
essa irmã que não me permite acordar nunca com a solidão.