Já Fósseis

DEIXEMOS CRESCER.

Deixemos crescer

Em torno dos nossos corpos unidos

A vegetação dourada

Fruto de um trabalho persistente.

Sim, amor, deixemos

Que nos envolva o trigo

Num abraço de séculos

Alimentando-nos de nossas simples vidas

Na rotina de um amor diário

Certos de que aqui embaixo

A três metros de profundidade

Jazem os cadáveres da batalha

Que houve, está havendo e haverá.

Deixemos que cresçam as ervas daninhas

E que as abelhas passem e perpassem

Zumbindo em nossos ouvidos que não ouvem.

Deixemos que nos contemplem

Os animais selvagens de todas as espécies

Deixemos que copulem ao nosso lado

E que o passar do tempo

Acrescente ao solo

Novos corpos da batalha

Unidos e fundidos num único bloco

Finalmente recobertos de asfalto.

Mas depois, muito depois,

Uns visitantes extra-galáxicos,

Num intervalo do seu caminho cósmico

Após escavações metódicas

Estudando um maxilar do que eu fui

E um fêmur do que tu foste

Concluirão pela vida aqui.

(E daí?

Publicado em mimeógrafo, com o nickname Joel Dantas, 1976.

Acrescento o "e daí?" hoje.