CARTA DE AMOR

Duas gotas do teu perfume

Escorreram dos teus cabelos

Deixando um rasto incerto

Entre vales e montes:

Caminhos que os farejei depois...

Pensas que não te imagino só,

Na intimidade do teu quarto,

Nua de banho no teu espelho

Arrumando cabelos, examinando-se:

O contorno arrepiado do teu mamilo em pé,

A marca tênue do que se escondeu do sol,

A curvatura do teu flanco em meia volta de bailarina,

Os cabelos úmidos, jogados para trás, braços erguidos, em rodopio...

Pensas que eu não sei o que escondes primeiro,

Ajustando com os dedos as rendas brancas

Nos contornos mais sensíveis das tuas pernas?

O perfume, que distraído desceu feito orvalho,

Tu nem o percebeu, olhando para não-sei-o-que

Na tua boca que imagina beijos; por isso te arrepias

Quando te adivinho com o meu nariz:

Quanto menos souberes dos cheiros que procuro

Pelos segredos da tua pele,

Tanto mais deixaras escapar em teus lábios apertados,

Teus ais e gemidos por conta do teu corpo que se contorce

Por caminhos que andas na escuridão dos teus olhos fechados...

Contarei este segredo, jamais para ti:

Gosto quando voltas e abres teus imensos olhos e, sorrindo,

Parece querer saber que cheiros e gostos tenho eu...

E mergulho num vórtice:

Teus cabelos... o perfume... Incertos montes... Depois, depois...

Agora!

Não te conto que eu morro agarrado a tua carne:

Depois te beijo com ternura, uma vez, duas, três...

E ao menor sinal do teu quere-me,

Ajusto a minha geografia a tua para sermos um...

Eu ainda guardo aquela carta adolescente

Que me ensinou que o teu cheiro quente

É melhor que no papel...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 03/06/2006
Código do texto: T168939
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.