***BARGANHA***

prega colchetes

na roupa de pano

de tecido colorido

contrário à vida

escorrida nos dedos

como calda fina

macilenta, insossa...

passageira do tempo

olha sobre a janela

da parede desbotada

sobreposta na calçada

lamacenta e grudenta

a rotina das vizinhas

como em câmera lenta...

uma, duas, iguais Marias

das Graças e da Conceição

quando não, das Dores

da suposta Dolores

ou da pura Assunção

mães de muitos meninos

sem bola, pião e pão...

passam as horas

dias se vão

pregando botões

sangrando o dedo

nos alfinetes de ponta

como espadas sem lume

fincadas no coração...

já não há mais pressa

nem sonho, nem valsa

tudo já é nada

no ponto da agulha

ajustado, calculado

simetria perfeita

oposta a própria sina...

nos atalhos de si mesma

encurta o caminho

remonta a trama

camufla a cena

permuta personas

barganha a sorte

e segue...

Nikitita... a poetinha de Niterói

Angela Oliveira
Enviado por Angela Oliveira em 05/06/2006
Reeditado em 06/05/2012
Código do texto: T170087