***BARGANHA***
prega colchetes
na roupa de pano
de tecido colorido
contrário à vida
escorrida nos dedos
como calda fina
macilenta, insossa...
passageira do tempo
olha sobre a janela
da parede desbotada
sobreposta na calçada
lamacenta e grudenta
a rotina das vizinhas
como em câmera lenta...
uma, duas, iguais Marias
das Graças e da Conceição
quando não, das Dores
da suposta Dolores
ou da pura Assunção
mães de muitos meninos
sem bola, pião e pão...
passam as horas
dias se vão
pregando botões
sangrando o dedo
nos alfinetes de ponta
como espadas sem lume
fincadas no coração...
já não há mais pressa
nem sonho, nem valsa
tudo já é nada
no ponto da agulha
ajustado, calculado
simetria perfeita
oposta a própria sina...
nos atalhos de si mesma
encurta o caminho
remonta a trama
camufla a cena
permuta personas
barganha a sorte
e segue...
Nikitita... a poetinha de Niterói