A Deus

É tanta hipocrisia

escondida em tantas alegrias

encobertas por tanta hipocrisia

que nem se tem como esconder - e nem teria porquê!

Haja alegria!

Fui, sou e sempre serei um romântico

e romântico no sentido mais romântico da palavra!

Um completo idiota metafísico

vivendo um eterno e ingênuo lirismo

de quem vive por não mais querer viver.

Haja romantismo!

Não mais suporto a ciência

e suas descobertas assombrosas,

nem a tecnologia

e seus avanços assombrados.

Sou muito mais minha sapiência,

minhas prosas

minha poesia

meus romances inacabados.

Sempre preferi o fantástico ao real,

a realidade é tão insípida, tão sem sal,

tão banal e racional!

Sou muito mais o surreal, o irreal

o a-real e o inreal e o pan-real e

todos os outros reais que não o verdadeiro!

Não que eu defenda a pura imaginação

a inanimação e a invenção,

apenas defendo o que é real

mas irrealmente posto

e surrealmente vivido

e desrealmente acreditado,

como um vício que não existe

e ainda assim te deixa viciado.

Coisa que não gosto é dizer adeus.

Não gosto não, não suporto!

E já que muito me importo,

delego a outra pessoa o encargo de

despedir-se: a Deus.

Fernando em Pessoa
Enviado por Fernando em Pessoa em 20/07/2009
Código do texto: T1709782
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