O Livro e a Revista
O livro, admirado, olhava a revista.
- Admirável lista de coisas que tens aí!
O livro em revista fazia vista grossa aos defeitos vistos.
-- Não importa. – pensava o livro.
O livro em constante pena, no entanto, se importava. Mas diante daquela beleza. O que é que importa? O encantamento não comporta a visão dos defeitos.
O livro olhava a revista, a revista lia o livro.
- Quanta solidão! – dizia ela.
-- E em meio a tamanho conhecimento. Esquecido em uma estante.
E o livro olhava a revista, admirado.
-- Como tão poucas folhas poderiam dizer-lhe tanto!
O livro lia a revista, a revista olhava o livro.
- Que bela capa grossa, que escrita bem dita e pomposa! Que obra de rara beleza!
-- Então porque tanta sofreguidão?
O livro colhia a revista, a revista acolhia o livro.
O livro, a revista, a revista e o livro.
O livro de longas datas, o livro de fartas palavras, o livro das estantes.
O livro amou a revista por alguns instantes.