MANDINGA
Tentei desfazer a mandinga,
O preto falou: isso aí não é desfeito.
Veneno de cobra é catinga,
Qualquer remédio dá jeito!
Olho gordo? É fácil! Sem trapaça,
É só benzer com arruda
E a vida volta a ter graça,
Assim, sem “Deus nos acuda”!
Mas não há cura, eu aviso!
Para o olhar perdido, risos à toa,
Castelo de areia, paraíso...
Calcanhar sem chão, juízo que voa.
Pior que a mandinga é o remédio
Para esse mal, minha filha,
Nem o pranto, nem o tédio,
Nó no peito, calor na virilha.
Um quarto de hora, eu digo,
Parece clausura ao relento.
Munganga de coceira no umbigo,
Por do sol descorado e cinzento.
Mesmo se houvesse cura
Ainda assim, se ouviria os “áis”
Pelos becos, o som de beijos, as juras.
Isso é sina que te segue adonde vais.