Só Lua entende os dilemas de um homem, em sua janela noturna, sondando o insondável da vida. Dedico a SOLUA.

Prezado amigo leitor, que me acessa - optei por publicar este longo poema em partes - sem o querer induzir ao início, às partes primeiras, mas as coisas têm um nexo, que nem sempre é possível saltar.



SUBTERFÚGIOS - QUINTA PARTE

Se eu tivesse agora
A clareza de visão com que amanhã
Olharei para os fatos de hoje,
Eu estaria acabado,
Acabado no duplo sentido.
Ah, sirênica presença,
Como ousas seduzir
Todos os espíritos
E fundir em teu seio
As essências secretas
Da feminina alma do homem?
 
Porque o meu passado emerge de brumas
E porque o meu futuro mergulha em brumas,
Fundo-os ambos num campo
Único, sedativo, metafórico.
As minhas paixões são inconfundíveis . . .
Digo de um anjo que fazia morada
Numa estrela e nutria-se
De sorrisos de criança
E dormia ao sol raiar.
Falo do fundo,
De onde vêm as intenções,
Lembrando os teus olhos
De olhar no fundo dos olhos –
Como eu os sonhei!
E quando sinto-me feliz
Parece-me absurdo
Imaginar-me diferente.
 
As horas fluem incessantes;
Incessantes, mas sem pressa.
 
Não tenho desejos
Para depois da morte
Talvez porque,
Por uma nefasta onipotência,
Eu me conceba imortal.
 
Volto à cena da minha
Janela pensante. As mães,
Zelosas, recolhem as crianças
Para o sono nutritivo e carnal;
Os namorados vagueiam,
Sonhando que sonhos
Em mim perdidos!
Todo homem tem uma parte
Que é máquina
Que o faz voar,
Ou sonhar voar,
Ou sonhar somente,
Janela muito além.