Assovio no Estio

Elane Tomich

Um amor de pai, urgente,

que foi pros lados do embora

insiste que eu não morra agora

fugindo horizonte afora

pois uma rima à minh' espera

faz-me um pedido premente.

Pede que eu escave o tempo,

pare o espelho, o relógio

e decifre seu lamento,

decodificando o amor

quebrado entre versos de ódio.

Ávida a vida esperneia

convulsiva, tensa, feroz,

desmaia em músculos flácidos.

Na espera há um verso plácido

que de mim só rouba a voz

assovio no estio do tempo.

Seiva esticada na teia

de vida, ilusão que enleia

a trama de se fazer

o fio que indica a via

estrada de cometer

a sentença que esvazia

os pecados da poesia.