Despedidas
Chegará um tempo em que não mais existirá
A nossa face, o nosso corpo, o nosso eu.
Um vazio imenso será o nosso único espaço,
E os lugares por que passamos serão transformados
Em museu com o que sobrar de nós.
Não haverá mais sorrisos, lágrimas,
Abraços ou aperto de mão.
Os nossos passos se calarão e um silêncio absoluto
Tomará de súbito todo universo.
Morrerão todas as palavras e escrituras
E tudo será uma só poesia,
Espalhadas nos cantos mais distantes da terra.
Os aplausos e os palcos serão entregues
A seus donos inexistentes e a uma platéia
Que há muito tempo não está mais ali.
Restará apenas o faxineiro com sua vassoura
E a coxia não mais cochichará.
Acabará o curso e o discurso
E se ouvirá bem ao longe,
O ensurdecedor barulho que ficará em nós.
Tudo será apenas uma construção levantada
E inventada com a dor e a alegria.
Seremos pedras transformadas em estátuas
Para que nossa voz não mais ecoe em lugar algum.
Os enganos e desenganos ficarão para trás e
Tudo desaparecerá junto com a lembrança
E o resto que de nós ficar.
Mas algo vai sobreviver a tudo isso e
Será aquilo que resistirá a toda essa indiferença:
A arte de inventar o ininventável