Despedidas

Chegará um tempo em que não mais existirá

A nossa face, o nosso corpo, o nosso eu.

Um vazio imenso será o nosso único espaço,

E os lugares por que passamos serão transformados

Em museu com o que sobrar de nós.

Não haverá mais sorrisos, lágrimas,

Abraços ou aperto de mão.

Os nossos passos se calarão e um silêncio absoluto

Tomará de súbito todo universo.

Morrerão todas as palavras e escrituras

E tudo será uma só poesia,

Espalhadas nos cantos mais distantes da terra.

Os aplausos e os palcos serão entregues

A seus donos inexistentes e a uma platéia

Que há muito tempo não está mais ali.

Restará apenas o faxineiro com sua vassoura

E a coxia não mais cochichará.

Acabará o curso e o discurso

E se ouvirá bem ao longe,

O ensurdecedor barulho que ficará em nós.

Tudo será apenas uma construção levantada

E inventada com a dor e a alegria.

Seremos pedras transformadas em estátuas

Para que nossa voz não mais ecoe em lugar algum.

Os enganos e desenganos ficarão para trás e

Tudo desaparecerá junto com a lembrança

E o resto que de nós ficar.

Mas algo vai sobreviver a tudo isso e

Será aquilo que resistirá a toda essa indiferença:

A arte de inventar o ininventável

Mathie
Enviado por Mathie em 14/06/2006
Código do texto: T175568