Antitese
na coxia do teatro empoeirado tirava minha máscara fantasia de Pierrot
e eu com a face borrada pelo suor do prazer
suor da arte, suor do aplauso
suor perdido na tinta mesclada com lágrimas - consagração
consagração advinda da dor, e da perfeição da solidão
solidão compartilhda
dicotomias de um palco:
prazer, solidão
risos, lágrimas
dicotomias de uma vida, flexão extenção
flexão e extenção
força e suavidade
porrada e afago
parceria e afago
medo e afago
sucesso e porrada
risos e porrada
"partners temos muitos, mas na vida temos um só"
partners,
parceiros,
amantes,
amigos,
irmãos
ligados por cordões que abrem cortinas nada umbilicais
ligados por danças nem sempre pessoais
impessoalidade de passos conexos, desconexos, retos, tontos... passos
tendus, plies, sussurros e suspiros
ahhhhh
orgasmos físicos
prazeres tísicos
e s p i r i t u a i s
o apaluso lava a alma
e o gozo da carne
o charme da figura
e terror da imaginação
...
ouço aplausos pelo belo trabalho
e ensurdeço tal qual Beethoven quando percebo não ser mais Pierrot
enlouqueço tal qual nijinsky quando percebo não ser mais Colombina
Maldito Plínio Marcos sem palhaços
Maldito Vianninha sem tristezas: devolvam-me as tintas
Maldito Tolstóy sem dor
Dostoiévisky sem cor
Maldito Dostoiévisky sem descrição
Devolva-me as letras!!!
partituras...
E deixe a página do script branca, assim como o rosto despintado de um Pierrot apaixonado que perdeu o passo
e a Colombina
(texto criado em parceria com o grande amigo e estimadíssimo poeta RODRIGO AUGUSTO PRADO)