OFÍCIO DA POESIA

Ainda é noite alta quando o poeta

Descreve no céu um sol estático

Trazendo a lume coisas há muito

Adormecidas em sua solidão:

Um escorpião de vidro

A moedinha de prata, presente do

[bisavô

O retrato de Maria no fundo da gaveta

Tocado na face pelos dedos amarelos

Do tempo

O poeta escafandrista vasculha

Almas revoltas imersas em destinos

[incertos

E à tona, quase sem ar

É senhor dos mais recônditos segredos

Enterrados em túmulos de chumbo

E das tardes vazias e mortas

O poeta procederá no destilo

Do vinho novo e temperado

Para que todos celebrem, à mesa,

A chuva de nêutrons no coração da

[supernova,

A cidade desvencilhada,

O princípio do novo

* * *

Goiânia, junho de 2006

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 18/06/2006
Reeditado em 23/06/2011
Código do texto: T177584
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