A Última Deusa

Mortos os deuses, ela permanece,

não se rendendo ao esquecimento,

ou a ser velha, enrugada, infeliz.

Antes desprezando isto que se diz,

sabe que o seu tempo nunca fenece,

e perpetuando este momento,

a sua beleza nunca esmorece.

Semente da vida, ela enlouquece,

quando se vê ferida e destroçada

por ávidos homens. Quê? Não ouvis?

Sinal dos tempos, o homem contradiz,

mas sem recordar que ela não merece,

pois mesmo assim triste, magoada,

a ninguém recusa a sua benesse.

Sinal dos tempos? Qual o tempo dela?

Foi antes, agora, será depois?

Seu tempo é presente, não envelhece,

bom para os homens, de quem não se esquece.

Os deuses não morrem, sempre de vela,

intemporais, permanecem a dois,

tornando esta vida muito mais bela.

E seja qual for a forma escolhida,

sua presença nos dá alimento,

abrigo e calor, carinho e amor.

Na natureza, qual rei ou senhor,

é mãe, é terra, é fruta colhida,

e, sem alarde, mantém o momento,

é deusa, mulher, é fonte da vida.

Sintra, 11/03/2006

António CastelBranco
Enviado por António CastelBranco em 18/06/2006
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