GIRASSÓIS DE VAN GOGH

Apagaram-se as últimas estrelas do firmamento

E a noite em questão - matéria inerte condensada

Num amálgama de medo e pavor

É a negra pantera a velar teu sono

A pesar sobre teu corpo

Sedenta de um desejo cáustico

Que lhe dissolve as fibras

De um sonho distante

Adormeces, enfim

Embora retesado pelo frio

O corpo permanece desnudo

Os dedos arroxeados

A face apática

Um filete esbranquiçado

De saliva derramada

A pantera se vai com a última corrente de ar

Frio, e lentamente se desvenda a manhã

Tão leve como uma pluma juvenil

E pela janela transpassam

E derramam-se e deitam-se sobre a cama

Os dourados raios da anunciação

E a manhã foi feita

Bela e trágica

Como um girassol de Van Gogh

* * *

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 19/06/2006
Reeditado em 23/06/2011
Código do texto: T178625
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