DE MANHÃZINHA

num segundo dia qualquer,

[um dia onde a poesia não era assim tão imprescindível]

o viu acordar,

era manhã e nem manhã parecia:

no seu olhar, um cheiro de café coado ontem

– requentado –,

seu andar obedecia a uma cantata de Bach

enquanto descobria, na casa, mistérios nunca dantes revelados por fantasmas

[era manhã e nem manhã parecia]

fez, no fogão não muito íntimo, uma comidinha nem tão nem tanto,

juntou seus guardados aos dele para selar de vez a união,

almoçaram juntos, sem saber se almoço ou janta

[era manhã e nem manhã parecia]

transplantou para o jardim todos os perfumes sonhados,

e, para a cama,

todos os lençóis bem usados

[era manhã e nem manhã parecia]

pensara ser difícil conviver c’aquele homem

– um marido! –,

mas era manhã e nem manhã parecia...

... e que venha um terceiro dia

[um dia em que a poesia também não seja tão imprescindível]

quando,

louca para vê-lo dormir,

inventará, inesperadamente, uma insônia crônica,

ou que as suas costas foram picadas por uma revoada de mosquitos!...

[era manhã e nem manhã parecia]

e, mesmo dia tardo, a tarde não lhes chega,

parece conhece-lo há muitas, há muitíssimas manhãs,

o tempo anda, num voar de calendários,

pois, viver em amor, é uma sublime eternidade!

Djalma Filho
Enviado por Djalma Filho em 06/09/2009
Reeditado em 09/09/2009
Código do texto: T1794761
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.