NOSSO AMOR
Queres que sejas dor?
Então vem lenta.
E vem assim,
como quem tenta.
Se puderes,
traz sal e pimenta;
a lua deixa na lua,
a água que fique benta.
Se vieres, anda como gato,
procissão, folhagem,
sem unhas, sem o suor
de última viagem.
Se queres, sê a dor.
Mas não a de ferir:
a dor raiz,
a dor do só dar.
A dor do jeito que
a dor nem gosta.
A dor que intervala,
nem sempre disposta.
A dor, se queres ser,
a crua ao relento.
Se queres cinza,
pinta a aparente
dor da gente,
a dor cavada,
mina de prata.
Escora, semente.
alfredorossetti.com