QUANDO O POETA ERRANTE ENCONTROU A RAINHA DOURADA

Sou um errante poeta andarilho,

Que vive de compor versos de reino em reino.

Minha vida eu mesmo trilho,

E para compor versos nunca precisei de treino.

Venho a muitas luas viajando,

Montado num cavalo velho, cansado e doente.

Preferiria estar numa quente cama descansando,

Ou sentado numa taverna comendo algo bem quente.

Avisto, no alto de uma montanha rochosa,

Um imponente e intransponível castelo.

Encontro a estalagem desejosa,

E à frente dela minha montaria atrelo.

Depois de saciar a minha fome,

Vou contemplar a linda noite estrelada.

Tento acalmar o fogo que ao meu peito consome,

Sinto que vai ser uma noite inspirada.

Chego aos portões desta magnífica construção,

E me apresento como um reles versejador.

Falo de paisagens, de outros reinos, e do coração,

Falo de sonhos, de batalhas pela terra e pelo amor.

Um mensageiro pelo rei foi enviado,

Para dar-me as boas vindas.

Para um aposento na ala dos empregados sou levado,

E percebo, que lá, existem amas lindas.

Prepararam-me um banho relaxante,

Pois à noite com o rei e a rainha iria jantar.

Meu coração pulsou vibrante,

Mais tarde, recebi um convite para no reino morar.

Terminava de me vestindo no aposento a mim destinado,

Quando um guarda veio me guiar.

Ao imenso salão fui levado,

E um simples, mas farto banquete foi o jantar.

À mesa estavam, o rei, a rainha e uma nina,

Deveria ser a pequenina princesa.

Fervilhou em mim uma rima,

Inspirada na rainha e na sua distinta beleza.

Soltei um leve pigarro chamando a atenção,

E levantando, pedi ao rei permissão para falar.

Ele olhou-me sem nenhuma emoção,

E perguntou: “A que pretendes falar?”

Curvei-me, e solenemente respondi: “Meu rei magnânimo,

Gostaria de ter a vossa permissão para alguns versos à rainha criar.”

Ele me olhou com desprezo e em sua voz não havia ânimo,

O rei respondeu: Não! Tens de fazer versos para o meu alegrar.

Percebi que chamara uma leve atenção da dourada rainha,

E depois de fúteis versos para o criei criar.

Ele mordia grotescamente uma coxa de galinha,

Cansado, pedi para ao meu quarto me retirar.

A imagem dela não me saía do pensamento,

A imagem de uma rainha uma aparente tristeza.

Eu estava confuso naquele momento,

E nem mais de estar vivo tinha certeza.

Morri no primeiro segundo,

Em que encarei os verdes olhos da majestade.

Não pertenço à este “nobre” mundo,

O brilho dos olhos dela me tiraram da realidade.

A madrugada foi minha fiel companheira,

Escrevendo à rainha inúmeros versos.

Confessando de forma sincera e verdadeira,

As gigantes diferenças que separam os nossos universos.

E logo ao amanhecer,

Recebi de uma aia uma feliz notícia.

No meio da noite o rei um recado veio receber,

E deveria partir imediatamente para a Galícia.

Mais tarde fui convidado pela rainha,

A acompanhá-la na ceia matinal.

Não sei de onde seu envolvente perfume vinha,

Mas deveria ser algo angelical.

Com toda a minha educação e respeito,

Atirei-me ao chão nos pés daquela incrível mulher.

Para controlar meu coração deveria encontrar um jeito,

E rápido; haja o que houver.

Ela suavemente ordenou-me que eu me levantasse,

E fitou-me com os olhos levemente a brilhar.

Pediu novamente que ao desjejum a acompanhasse,

Vi ao seu rosto uma luz iluminar.

Quando eu menos esperava,

Perguntou-me sobre a poesia.

Perguntei se a arte de escrever a agradava,

E um sorriso apareceu como o sol num nublado dia.

Ajoelhei-me novamente diante dela segurando-lhe suavemente a mão,

E beijei-a de forma respeitosa.

Ela disse: “Pronto! Agora tens minha total atenção.

Só me tratam de maneira insidiosa.

Eu comecei lentamente a declamar,

Um a um dos meus versos dedicados a ela.

“Perdoe-me se estiver a ousar,

Pois, não conheci na vida mulher mais bela.”

“Percebi um fraco brilho no teu olhar,

Tua íris é uma ilha rodeada de tristeza.

Nunca a faria sequer uma lágrima chorar,

Linda representante da nobreza.”

“És, majestade, uma mulher de beleza inigualável,

Nem a mais linda noite de luar é igual a ti.

Meu sentimento está se tornando indisfarçável,

És a dourada mais bela que já vi.”

“Beijarei solenemente vossa mão,

Para ver se controlo esse sentimento.

Acho que me apaixonei pela tua visão,

E tu, linda rainha, trouxe paz ao meu tormento.”

“Queria poder enredar-me nos seus cabelos dourados,

E tê-los por meros segundos deslizando entre meus impuros dedos.

Ter nas minhas mãos a lembrança de como eles eram perfumados,

E os meus atos jamais seriam tredos.”

“Nas profundezas dos teus lindos olhos verdes,

Eu iria procurar os tesouros perdidos.

Não alimento a tênue esperança que venha serdes,

Que seja um errante poeta compreendido.”

“Teus lábios perfeitos, róseos, macios,

Abrem-se num lindo sorriso de covinha.

Bastariam eles para me aquecer nas noites de frio,

Se tu, dourada, não fosses uma rainha.”

“O perfume que vem de ti é envolvente,

És a mais prefeita obra de arte.

Choro tristemente,

Pois da minha vida jamais farás parte.”

“Se fui ousado, peço que me perdoe,

Mas eu sou um pobre artista.

Tenho que deixar do meu coração apagado,

Esse amor à primeira vista.”

Sem que eu desejasse uma lágrima brotou dos seus olhos cor de esmeralda,

E a contive com a ponta do meu dedo.

“Serás sempre minha rainha, minha dourada,

E isso será o nosso grande segredo.”

Levantei-me em silêncio e lentamente,

E anunciei que estava de partida.

“Vou-me embora muito contente,

Pois encontrei a rainha da minha vida.”

“E de uma coisa eu sei,

Que levarei a tua imagem em minha memória,

Não teria a competência de ser um rei,

E deixar gravado meu nome através da história.”

“Mas antes que eu venha da tua vida sair,

Posso pedir para levar de ti uma profunda esperança?”

E ela me reponde “sim” com um largo sorrir,

Posso, beijar teus olhos cor de esperança?

21 / 02 / 2006

Perrelli
Enviado por Perrelli em 12/09/2009
Código do texto: T1806799
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