Soneto ao poeta mancebo
Volve teus olhos, nas veredas murmurantes deste vale.
Que enche o seio do odor tristonho na nota breve,
Cante a solidão embalsamada e viva teu luto leve,
Depois na mesma solidão que cantas, purifique e cale.
Retarde a soltura do gemido na boca empoeirada
E guarde o canto febril nos cárceres sob as pedras,
Ilumine o enfermo peito com a vela que te regras,
Mas não cale eternamente o eco doce na estrada.
Conserve o trago último do cigarro que evaporou,
E entregue a veia interrompida ao negro manto,
Descanse a rouquidão que o céu da boca apavorou.
Velará a noite sobre o esquecido vale, e, no entanto,
Ao ver-se morto no vertiginoso silencio que se retirou,
Sente que nunca se ouve sequer o eco de teu canto.