Soneto ao poeta mancebo

Volve teus olhos, nas veredas murmurantes deste vale.

Que enche o seio do odor tristonho na nota breve,

Cante a solidão embalsamada e viva teu luto leve,

Depois na mesma solidão que cantas, purifique e cale.

Retarde a soltura do gemido na boca empoeirada

E guarde o canto febril nos cárceres sob as pedras,

Ilumine o enfermo peito com a vela que te regras,

Mas não cale eternamente o eco doce na estrada.

Conserve o trago último do cigarro que evaporou,

E entregue a veia interrompida ao negro manto,

Descanse a rouquidão que o céu da boca apavorou.

Velará a noite sobre o esquecido vale, e, no entanto,

Ao ver-se morto no vertiginoso silencio que se retirou,

Sente que nunca se ouve sequer o eco de teu canto.

Myrna RRP
Enviado por Myrna RRP em 23/06/2006
Código do texto: T181159