Sobre quando o sonho parece realidade
Quando me falta concentração, sobra-me inspiração.
Perco o sono, ganho a fala
[chave-mestra da expressão
Perco a noite, ganho a alvorada,
sonâmbulo que sou, embebido em minha ilusão.
Num instante já nem mais sei onde estou
[onde sou
e ao mirar o teto do meu quarto vejo estelas
- ou coisas que parecem estrelas
Trilhões de pontinhos amarelos cintilantes e dançantes flutuando
- talvez não sejam estrelas, mas vagalumes
até se chocarem, gerando uma pequena explosão azulada
- talvez não sejam vagalumes.
Efeito do sono
[que perdi.
Tudo é inconstante, inconsistente,
o cenário que vejo é tão fixo quanto uma bandeira trêmula.
Tudo é silêncio, sibilante,
as vozes que ouço são apenas urros desesperados do meu inconsciente mudo.
Estou sozinho, mas decido apresentar-me
- a mim mesmo:
- Fernando em pessoa, muito prazer, forasteiro. -
E talvez eu até esperasse algo em troca.
Algum outro grito tosco e chiado de dentro da cabeça; mas nada veio.
Apenas vácuo.
Apenas alucinação: fascínio da imaginação inociva.
Apenas um sonho: ilusionismo da representação não vivida.