Sobre quando o sonho parece realidade

Quando me falta concentração, sobra-me inspiração.

Perco o sono, ganho a fala

[chave-mestra da expressão

Perco a noite, ganho a alvorada,

sonâmbulo que sou, embebido em minha ilusão.

Num instante já nem mais sei onde estou

[onde sou

e ao mirar o teto do meu quarto vejo estelas

- ou coisas que parecem estrelas

Trilhões de pontinhos amarelos cintilantes e dançantes flutuando

- talvez não sejam estrelas, mas vagalumes

até se chocarem, gerando uma pequena explosão azulada

- talvez não sejam vagalumes.

Efeito do sono

[que perdi.

Tudo é inconstante, inconsistente,

o cenário que vejo é tão fixo quanto uma bandeira trêmula.

Tudo é silêncio, sibilante,

as vozes que ouço são apenas urros desesperados do meu inconsciente mudo.

Estou sozinho, mas decido apresentar-me

- a mim mesmo:

- Fernando em pessoa, muito prazer, forasteiro. -

E talvez eu até esperasse algo em troca.

Algum outro grito tosco e chiado de dentro da cabeça; mas nada veio.

Apenas vácuo.

Apenas alucinação: fascínio da imaginação inociva.

Apenas um sonho: ilusionismo da representação não vivida.

Fernando em Pessoa
Enviado por Fernando em Pessoa em 16/09/2009
Código do texto: T1813634
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