Teus vitrais

Teu olhar em névoa negra, um frio ataúde,

Que serve de insígnia ao meu verso estrito,

Não há caminho por onde não trilhe o grito,

Como não há arrimo para um suspiro rude.

Tuas pestanas são o abismo dum rosto ermo,

Busco uma fenda para adentrar o admirável,

(Dantes da tempestade suntuosa e incansável)

Que me permita aquecer-te o peito enfermo.

Destes vitrais obscuros, dentro, é que se agita,

A paixão vertiginosa, a pulsação do abandono,

O furor incontestável que a solidão excita.

Rogo que finde em ti, o inferno e o outono,

E que tu guarde, ardente, em tua alma aflita,

Ao menos este verso em teu marmóreo sono.

Myrna RRP
Enviado por Myrna RRP em 24/06/2006
Código do texto: T181648