Sobre-Viva

No restolho ceifado,
na branda chuva do outono,
da oliveira de prata
ao sol que apetece e mata,
sou a papoila que resta
perdida no campo,
outrora seara florida
de espigas, pão e esperança.


Desde margarida em botão,
desde cabrita do monte,
desde gata que se esgueira,
desde raposa das uvas
até cerejeira em flor,
eu só sabia
que no mundo da fantasia
era princesa esquecida
embora mais não fora
do que uma pobre pastora
de cabras e de ilusões...

Veio o tempo de violeta,
que me deu perfume...
não me abafou a clausura
muito lia e mais pensava
e falava e escrevia
contra a bruta tirania


Tornei-me perfumada rosa,
lancei meu perfume no vento.
dissipou-se sem provento...

Então, fechei sobre mim:
minhas pétalas douradas
de rubra seda, cetim...

... e curvei-me para o chão,
com um secreto sorriso
de compromisso comigo...