Mutilar ou Um poema: O que não ouso acabar

Que te espreitas pelas esquinas

da madrugada

sem carne

fedendo teu cio

cadela

isso é coisa que já se sabia.

E que vadias com gosto teu sexo

soluçante pelos galhos do falo do poema

e que te ensaboas do chorume tosco

dos cabaços perdidos sem ternura e sem perdão

sem sonho... [

botão-sangue lacerado

um bouquet

a rosa a rosa

a rosa

de

inocência

rompida pela palavra ereta

que tanto mais ama quanto mais é violada

- a rosa explode orvalhada ante a voz gritada -

risada rosa aberta boca ( ) ]

eu sei

eu sei bem

eu sei da lua em teu seio bandeja de prata

foi uma vida que deitei ali

e foi um tanto mais:

ali moravam meus dentes

ali quedavam os inimigos

crianças cheias de noite vinham banhar-se ali

eu sei

eu sei bem

eu vi!

Vi com meus próprios dedos a dureza

de teus mamilos.

Vi tua solidão, bandida!

Chorei tua dor

suguei teu gozo

o mesmo gozo

com que colores

teu pequeno

( I )

MundO

...

Como és vazia assim cheia de todos.

Cheia de graças sem.

Sal untando músculos

os meus rasgados

as tuas unhas virulentas

o porvir da lisura de tua língua

nem falo teu cabelo quase breu

que de infernos povoavas meu céu

e já nem sei, nem sei , nem sei...

porque tanto retornas

e vagas ocupando o ar asfalto

vagas devagar vagabunda

asa da palavra azeda

lâmina acesa

ali a ser devorada

voraz mesa de meu pousar sobre

mesa

sobras de meu doce mutilar.

Harley Dolzane
Enviado por Harley Dolzane em 27/06/2006
Reeditado em 27/06/2006
Código do texto: T183348