POETA, indiferente
 
Se eu sou poeta ou não, é fato irrelevante.
Se uma pequena poesia de minha autoria,
Receber d’outros olhos manifesto de amor,
Perderá seu encanto se não existir um autor?
Se no exagerado refinamento de um verso,
Se perderem as palavras no imenso vazio,
Passarei meus dias como professor de português.
A poesia é o vinho de uma ótima uva,
Ficarei feliz ser lembrado como predicativo do sujeito.
Tantos poetas guardados no medo de uma crítica,
Tantas poesias abortadas pela limitação fútil,
Quem carente de amor, não clama um beijo carinhoso,
Não pode medir o dom, de quem, solitário,
Lembra da vida como um sonho compartilhado.
Porque do poeta fica apenas o seu sonho,
Que correrá livre eternamente,
das amarras de um juízo qualquer.