Língua dos mortos
Vês? Pouco me resta além do verso exausto.
Miragem acerba deste meu murcho peito
E somente aqui, onde ele ecoa infausto,
Meu grito, aterro, num estopim perfeito.
Em transe as bestas florescem errantes.
Empresto-lhes a alma em troca da noite,
E dos soluços dos ébrios e do sorrir dos infantes,
Das barbarias do mundo a lucidez de um açoite.
Ao fim do encanto almejo a quietude,
Do cemitério repleto desta paixão suicida.
Hei lamentar a certeza de que na juventude,
Sonhar é a caveira que nos sustenta na vida.