Língua dos mortos

Vês? Pouco me resta além do verso exausto.

Miragem acerba deste meu murcho peito

E somente aqui, onde ele ecoa infausto,

Meu grito, aterro, num estopim perfeito.

Em transe as bestas florescem errantes.

Empresto-lhes a alma em troca da noite,

E dos soluços dos ébrios e do sorrir dos infantes,

Das barbarias do mundo a lucidez de um açoite.

Ao fim do encanto almejo a quietude,

Do cemitério repleto desta paixão suicida.

Hei lamentar a certeza de que na juventude,

Sonhar é a caveira que nos sustenta na vida.

Myrna RRP
Enviado por Myrna RRP em 27/06/2006
Código do texto: T183400