EGOÍSMO

lisieux

Banqueteio-me e me farto de delícias

de manhã não leio as tais tristes notícias

que fazem as manchetes dos jornais...

não leio sobre fome, nem miséria

as drogas, contrabandos, são pilhéria

com a política, já não me importo mais.

Eles só sabem dizer que os poderosos

insistem em pisar os pequeneninos

que mudam em pesadelos pavorosos

os sonhos de milhares de meninos...

Mas, se em minha mesa provo da fartura

se em minha taça sorvo o melhor vinho

que importa se existe em meu caminho

poluição, desgraça e amargura?

Se tenho cama larga e perfumada

se quem faz o meu café é a empregada

se no meu teto a chuva não penetra...

que importa se a criança abandonada

para cobrir seu corpo não tem nada

e vive de migalhas, na sarjeta?

Que tenho eu a ver com o aposentado

com o doente, com o desempregado?

que sempre trabalhou de sol a sol?

Eu quero, amigo, é viver sossegado,

com o meu cão de estimação do lado,

bebendo Brahma e vendo futebol.

Não quero nem saber do desvalido

que fica olhando com olhar comprido

quando me sento à mesa de algum bar.

Não quero ter que dar nenhuma esmola

e se o meu filho cursa boa escola,

azar daquele que não pode estudar.

A cada dia quero mais dinheiro

para deixar pro meu único herdeiro

e o mundo vai continuar assim:

É dessa forma que eu vou prosseguir

" Pobres sempre haverão de existir" *

então não queira por a culpa em mim!

BH - 20.11.04

07h

(* Jesus Cristo)

lisieux
Enviado por lisieux em 21/05/2005
Reeditado em 21/05/2005
Código do texto: T18430