Instinto
De que é feito o teu coração
que liquidifica os meus sentimentos?
Que tritura sem piedade meus devaneios de amor?
Até quando irás viver acorrentado aos sistemas sem alma,
negando-se a valsar no espetáculo da vida,
que pulsa abundante ao teu redor?
Nem sequer percebes a pálida virgem da noite,
companheira fiel do meu infortúnio,
sempre pronta a enxugar as minhas lágrimas,
no seu manto salpicado de luz, onde derramo todo o meu pesar,
enquanto dormes.
Até a brisa sorrateira e envolvente,
que sussurrava em nossos corpos as canções de doce malícia
embriagadas de sensualidade e volúpia desistiram de nós...
Cansei de vagar por um deserto estéril de sonhos...
O teu silêncio é lâmina fria a sangrar meu fio de esperança.
Agonizo! Me desespero! Enquanto dormes.
Instintivamente mergulho nas profundezas de mim
e num gesto brusco arremesso ao longe
o peso de um passado de tormentas
implodindo de vez todos os meus ais...
Respiro um ar de insustentável leveza
e sugo de um só gole a última taça de vinho,
estilhaçando em mil pedaços nas paredes do mundo,
o que sobrou de nós.