O Arquétipo da Sombra

Ele dizia essas coisas estranhas, psíquicos adornos,

Ode a tudo quanto reconhecia puro e perfeito

Na dança das rosas-de-fogo o seu lamento melodioso ia,

Perdido num tempo e num espaço diferente

Sobrevivia no vento, rodeando a Terra pra todo sempre

Buscando um coração sensível pra morar

Sussurrava belos hexâmetros pelas alvoradas

Insípidos versos recheados de ternura e eternidade

Era mais que uma dor forjada na silenciosa noite

Era mais que um simples grito de uma revolução morta

Era tudo o que tinha e nada do que restava

Era seu e não-seu, fundido em preciosos porvires

Com edacidade se apoderou de si mesmo

Não deixou os dias levarem sua crença

Não tomaram seus sonhos

Não mataram sua terra

Nada em tudo aquilo fazia o menor sentido

Nem as idiossincrasias, ou elegias ou trenodias

Era tudo um só motivo

E esse motivo era cortado por todos esses caminhos

Era ainda dia, mas à luz de velas

Num quarto escuro, com o espírito nu

A alma desnudada, o corpo cansado

Mais um dia, mais uma luta

Verso inverso, averso ao terso

Vernáculo opróbrio desse furor criativo

Uma alma sem culpa, sem medo

A sua fé era sua moeda, sua medida

Vivia de suas palavras

Andava em seus preceitos

Eram negros seus olhos

Mas alvas suas vestes

Foi bebendo amargas gotas de tristeza

Alimentando essa espécie de escuridão

Onde apenas os sábios sabem buscar alento

Onde lágrimas e música são apenas um ser

Era anjo e espectro, tudo ao sabor do inverno

Uma miniatura de seu deus inventado

Esse deus chamado poesia, adorado nos altares dos sedentos

Uma linha, um canto e um encanto... E era tudo

Olhando pela janela

Vórtices trazendo letras, juntando sílabas

Pra todo sempre

... Todo o sempre!