Anos de chuva
Anos tantos perdidos.
Encontrei-me pecando,
Negando encantos
A anos tantos passados.
E chorava a malícia.
E chovia tão bem.
Anos quantos calados
Ao entardecer dum quarto.
O velho amigo tombado,
Vazio ao lado.
Um resto destilado.
E chovia tão bom.
Anos fartos, mortos.
Onde estarão perdidos?
Lembranças sem lápide
São memórias esquecidas,
Vagas magras, vultos,
Anos brancos, apagados.
E chovia tão longe.
Anos em vão vividos.
Acho-me em cãs vagando,
Aos prantos recordando
Em quais galhos ou cruzes
Perecem os velhos sonhos.
E chovia tão largo.
Anos vagos, abandonados.
Ladinos galpões,
Ladainhas em salões
Vazios, remechidos.
Onde chorava Maria?
E chovia tão forte.
Anos calmos, calvos.
Desculpas ou sermões
Em grande flãmula?
Estrelas pedindo perdão
Num velho peito.
E chovia tão grande.
Anos, anos, anos...
E chovia tanto...