Anos de chuva

Anos tantos perdidos.

Encontrei-me pecando,

Negando encantos

A anos tantos passados.

E chorava a malícia.

E chovia tão bem.

Anos quantos calados

Ao entardecer dum quarto.

O velho amigo tombado,

Vazio ao lado.

Um resto destilado.

E chovia tão bom.

Anos fartos, mortos.

Onde estarão perdidos?

Lembranças sem lápide

São memórias esquecidas,

Vagas magras, vultos,

Anos brancos, apagados.

E chovia tão longe.

Anos em vão vividos.

Acho-me em cãs vagando,

Aos prantos recordando

Em quais galhos ou cruzes

Perecem os velhos sonhos.

E chovia tão largo.

Anos vagos, abandonados.

Ladinos galpões,

Ladainhas em salões

Vazios, remechidos.

Onde chorava Maria?

E chovia tão forte.

Anos calmos, calvos.

Desculpas ou sermões

Em grande flãmula?

Estrelas pedindo perdão

Num velho peito.

E chovia tão grande.

Anos, anos, anos...

E chovia tanto...

Antonio Antunes
Enviado por Antonio Antunes em 02/07/2006
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