DEDOS AFOITOS
Se não fosse o afoitamento de meus dedos,
Jamais saberiam o que minh’alma segreda.
Guardaria na palma da mão – nas linhas do destino...
Só haveria de saber, o coração a cruzar meu caminho.
Mas os meus dedos se emancipam de mim
E, no tablado das letras, fazem seu discurso.
Falam do que eu sinto e que não consinto falar,
Sublevam ao que imponho, antes de me escutar.
Depois, eles, os meus dedos, me constrangem a ler
O que, jamais, eu minutaria se pontuasse antes,
Se não houvesse reticências nas entrelinhas...
E, se essas coisas que eles escrevem, não fossem minhas...
Ivone Alves SOL