Iluminarias

E há sombras que falam

Quando o sol se apaga,

E teu quarto

Ainda é o meu quarto

De paredes que calam

Nossas brigas, nossas idas,

Nossos céus em teu sonho,

Meu inferno.

E há formas quer fartam

Meu mastigar salivoso

No recreio do teu umbigo.

E meus dentes mordiscam teu gozo

Que fenece em meu peito

Naquele parto que não queres.

É quando choras calada

Que ecoa meu desgosto.

E há meus dedos infantes

Latejantes, caminhantes

Das grenhas alheias

Dos cachos de todos os teus cabelos.

E os teus atos

São os teus atos,

Teatrais, baixos, ledos.

Nossas sombras chinesas

E confusas num crepúsculo calígrafo.

E há os restos mucosos

Nos cantos dos copos

Dos corpos nossos que bebemos.

E enojo teu ar

Dilatado e inspirado.

E o meu sono

Ainda é o meu sono

Descontente e medroso

Por continuar a senti-lo.

E há dias que existem

E não queremos sabê-los

E repetimos os beijos

Dos dias que recordamos

E soam falsos, e são falsos.

E meus olhos perseguem

As saias que são tuas

Em outras esquinas

Sem tua sombra...

Antonio Antunes
Enviado por Antonio Antunes em 03/07/2006
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