AS ERVAS DANÍFIRAS DO SONHO

As Ervas Danífiras do Sonho

Regadas a crepúsculos

e serenos nos terrenos da noite,

sem açoite ou lâmina que lhes corte

o broto, deixando-nos meio roto

meio torto, meio broto, absorto

crescem as ervas que aqui exponho

em dano, nas lápides do homem insano,

derivadas todas elas do sonho

onde nascem crescem

pairam e fenecem

arbitrariamente no signo

sempre prontas para seu novo ciclo

com seus espinhos e sua seiva

fazendo selva fazendo névoa

fazendo trégua em meio a guerra jazem aqueles que te cercam

com seu bateau ivre

finca pela usina de tédio

e no almejo de ser livre

usurpa meu intermédio

neste assédio, neste clero

que propõe nero ao meu império e não quero cortar, arrancar tua raiz pelo que fiz, no meu palco sois atriz

embala a noite em pacote verdejante

espalha pelo tempo velocidade da luz

relâmpago que se esconde faiscante

frente a trópicos de anseio suor e pus

jugular medonha e pulsante

antes que me acorde, em trago da tua seiva errante,

e um corte dos teus espinhos quentes

para fervilhar os pesadelos decadentes

e ousar encontrar deus em sua semente

vós ervas danífiras do sonho

sois safiras que conscientemente escondo

em cárcere alucinógeno e medonho

e que espinho por espinho vou pondo

nas paredes de um descontrolado cérebro

que às margens da via Láctea torna-se ébrio

e quanto mais cutuca

mais caduco, mais astuto

quanto mais figura, mais feitura

mais medo tenho da altura mais alto vou a pés mil para lançar-te em teu veneno cordialmente vil