AMARGURA

Nunca mais sentirás, jorrando n'alma,

o vinho oriental das recompensas:

a ressonância bíblica de um beijo...

a cantiga dourada de um sorriso...

a claridade fresca de um perdão!...

Somente encontrarás,

polichinelo trágico das ruas,

dor e miséria... intriga... indiferença...

amigos mortos... corações de sombra...

mascarados grosseiros... desencantos...

mulheres magras, implorando pão!...

Verás, também, deitados nas esquinas,

O cadáver comprido da vontade,

a memória tristíssima da Vida,

o velório fluídico da Luz!...

E, além da vida -- rude e torturante --

estrelada de guizos tilintantes,

a sombra ensangüentada de uma cruz!...

Julio Sayão
Enviado por Julio Sayão em 03/07/2006
Reeditado em 18/11/2006
Código do texto: T186851