LOUCA ESTOU!


Absorta em um mundo abstrato
com as vestes do tempo em farrapos...
Alma perdida em devaneios:
fui musa da poesia, em rimas exatas,
mas o verso do poeta perdeu a alquimia.

Quis ser sinfonia, em ironia o momento destoou
as notas da melodia, ceifando a harmonia
com a certeira seta do veneno da hipocrisia.

Cobri a face com sonhos do amor,
revesti-me em sutis disfarces
tentando retomar o rumo, e sobreviver.

Da tempestade que se avistava,
não percebi o breu a se erguer
nos passos rastejantes da inveja,
carrasco implacável, que com lâmina fria,
em lenta agonia o sentimento amortalhou.

Vaguei sobre o abismo inexplicável da dor,
nas profundezas do abissal
o delírio insano no lamento do martírio,
as lágrimas do bem, no riso do mal.

Brindo ao que me é vindo agora,
onde nada sinto, pois pouco me restou...
Desiludida, caminhei nas trevas da devassidão
escondi-me em inúmeras máscaras,
insana, doei a quem nunca me amou!
Ora matéria rota, espectro do que fui outrora.

Em muitos corpos estranhos
tentei preencher a solidão que se esgueira
com lacunas efêmeras de prazer,
tudo em vão... Triste ilusão...

Sangrei sonhos meus na demência
numa existência acorrentada à cegueira.
Roguei aos deuses do Olimpo por clemência!

Implorei, batia de porta em porta,
não atendiam, ninguém ouvia...
Doente, consciência dormente
no escombro do subconsciente,
sorvo o cálice amargo da desventura.

Maltrapilha, avisto a trilha da loucura,
carrego minha essência em meus braços
agonizando em amarguras...

Passos trôpegos, andejo por espaços opacos,
procurando algum vestígio de razão.
Adentro no vale da escuridão...

Olhar contrito, distante, suspenso,
disperso em miragens que se mesclam
em imagens distorcidas e sem nexo,
apagando o fino véu de lembranças.

Mergulho num estágio entre o sim e o não,
sem história na memória, sem reflexo...
Já não mais me sustento,
esqueci quem sou...
Louca estou!



09/01/2007
Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 17/10/2009
Código do texto: T1871166