Dedos Podres

Sou o vinagre que impregna sua água,

Sou o óleo que mancha seus rios,

Sou a praga que avassala sua plantação,

Sou o vento que tomba seu lar.

Sou a fome que leva suas crianças,

Sou a guerra que limpa o mundo,

Sou o ódio que seleciona os puros,

Sou a excelência que condena os culpados daquilo que não fizeram.

Sou a sujeira debaixo de suas unhas,

Sou a violação da rua de trás,

Sou a intolerância que arrebenta a carne,

Sou o dedo podre que cutuca sua ferida pútrida.

Sou a arrogância que lhe rebaixa aos porcos,

Sou a ostentação que lhe remete ao nada,

Sou a ordem que atropela seus desejos,

Sou a lei que lhe rouba a felicidade.

Sou a noite que chega eterna,

Sou o frio que lhe tranca em si,

Sou a angústia que lhe corrói,

Sou os pesadelos vivos que lhe perpetuam a insônia,

Sou a peste que envereda por suas veias,

Sou o câncer que lhe come viva,

Sou o demônio que lhe acompanha à esquerda,

Sou o pecado que calam os santos.

Sou o êxtase que lhe contorce o corpo enlouquecido,

Sou a felicidade que lhe faz tudo ter sentido, sendo.

Sou o amor que se enerva em suas vísceras,

São meus braços que lhe envolvem na noite fria, junto ao meu peito – onde pode descansar.

Durma!

Vistem: http://descemaisuma.blogspot.com