Eu vi o crepúsculo que se despedia

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Eu vi o crepúsculo que se despedia

lentamente

pela janela do meu quarto:

ele parecia uma velha fragata que se

perdia na linha do horizonte. Parecia.

O crepúsculo sangrava sobre os telhados

do meu triste bairro suburbano

quando tive uma miragem:

pensei que era você

quem partia (e não ele, o crepúsculo)

pensei ter visto você

deslizando entre nuvens

se despreendendo de tudo

do rios, dos ventos, da copa das árvores

pensei que era você

esmaecendo sobre as casas, sobre

a torre das igrejas, sobre

[o sino que badalava sordidamente...

pensei que era você

espalhando seus cabelos e

seu luminoso sorriso

sobre a cidade rumorosa,

sobre meus olhos

que se despediam de ti...

pensei

pensei que você partia

de tudo e de mim, teu pobre poeta no cais,

tudo isso considerei e vi

quando o crepúsculo sangrava

lenta, lentamente

e da janela eu me despedia

de ti, aurora, mulher.

***

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 19/10/2009
Reeditado em 15/11/2009
Código do texto: T1875465
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