Flores Escuras

Tantas curvas nessa cidade

Parece que vai ser uma longa noite

Essa minha busca infindável,

Já faz tanto tempo que nem sei mais o que busco

Deixei alguma coisa no passado

Alguma coisa naquela velha sala

Talvez alguma cor nas antigas pinturas

Um traço qualquer no seu céu aveludado

Cheguei a pensar que esse dia não chegaria ao fim

Que iria levar tudo de mim

Mas quando cheguei ainda estava tudo como deixei:

As mentiras, as dores, os recortes de felicidade

E esse bruto silêncio de solidão

Que aperta a alma até que não haja mais vida

Até que não haja mais chance de respirar

Num surto infinitesimal, ainda aturdido, preso à suas lágrimas, sigo só

Nem sei quanto de mim perdi em você

Quanto de mim deixei morrer

Fui dançando ao seu gosto, nas rimas de suas canções

Fui escurecendo ao clarão de sua luz putrefaciente

Café amargo na manhã inocente

Folhas de jornal com as velhas notícias do mundo novo

Almas diferentes pros mesmos grilhões

A ave solitária ainda vai pelo vento, sorrindo ao sabor do tempo

Parsifal, de Wagner, toca ao fundo

Solene risco amarelo-gualdo na parede

Fraseados e sinais, tenras e duras lembranças

De algum simples momento, sem palavra ou jura eterna

Amarescente sabor tem essa reminiscência

Ainda mais agora, frente ao mar

Não é possível chorar

Não hoje, não por você, não por ninguém!

Flores escuras nesse jardim púmbleo

Essa é minha túnica de sombra!