MARIA DO TREM

Ah!...Maria...Maria...Maria...
Maria do trem das onze
Das treze,das desesete...
Havia quem insistisse
Afirmar tê-la visto triste
Em longa espera, calada!
Pelo comboio da madrugada.
À espreita no mesmo cruzo
Da serpente em seu percursso
Protesta!...Xinga o entruso
Que desdenha de seu discurso
Declama o livro da vida
Em tantas frases de efeito...
E brada o indômito aço
Na força,na truculência
Sufoca no desrespeito
As mágoas dêste teu peito
E quando teu dasabafo
A alma desembaraça
Em teus olhos se espelha
Derradeiro vagão que passa
Engolem-te as esquinas
Roubando-nos a visão
De ti que mais nos parece
Ser de outra dimensão.


Obs."Maria",nome fictício de uma personagem real,que postava-se todos os dias num cruzamento da linha férrea,no centro da cidade, à espera da passagem do trem.Quando êste aparecia,ela fazia um desabafo,gesticulando muito.Devido ao ruído ,jamais entendera-se suas palavras.Depois,arrastava a solidão de seus passos pela Praça da Bandeira e sumia logo atrás da agência dos Correios.Nos anos 70,em nosso local de trabalho,assistíamos todos os dias à mesma cena.Um ser enigmático!