A PÁTRIA DE OLHEIRAS
“...toda unanimidade é burra...”
(Nelson Rodrigues)
É finda a Copa,
Mas...
...que me importa se o “brasil” é penta campeão??
O que me sobrou foram
as noites que me roubaram,
Os dias que me enrolaram,
As mentiras que me imputaram
impunemente ,
descaradamente...
O que me importa é que Chega!!!
Chega de felipões, alzirões, de galvões bundões...
Chega de ronaldos, rivaldos, arnaldos e gols mal anulados...
Basta de estúpidas cornetas, de piruetas de vampetas...
Basta de loiras cervejas, e desse lamentável e decadente estereótipo masculino...
Já estou farto do jogo, do engodo da globo,
Do verde amarelo, do tal corte de cabelo
do fulano...
Não suporto mais noites de vigília, as festas em família, irmanadas na tolice...
Me enojou a alegria forjada, a euforia ensaiada e a multidão acotovelada por um zoom da tv...
Estou cansado de ufanismos, otimismos e outros ismos de ocasião...
De ridículas bandeiras nas janelas,
De pinturas no asfalto,
E dos comentários obtusos dos entendidos de plantão...
Chega!!!
Basta!!!
Estou Farto!!!
Não Suporto Mais!!!
Me dá Nojo!!!
Viva a realidade!!!
Sim, a realidade amarga e crua
Que nos redime,
E nos devolve braços e pernas, estômagos e cabeças...
Nós, que até ontem, éramos só olhos esbugalhados
e ouvidos adestrados,
nós, que éramos só kilobytes
Sintonizados na Rede
Como gorilas futuristas,
Neandertais da era de Aquário
Nós, que ostentamos, por trinta dias,
nossas olheiras orgulhosas
como vampirizados cornudos da pátria,
certos de que a Copa era o Graal
que nos conduziria ao 1o mundo...
AGORA BASTA!!!
Quero de volta
O meu sono cassado,
A discordância proscrita,
A pluralidade cromática subtraída
Não aceito o paliativo da vitória
Quero, antes, o fracasso, a humilhação, a derrota
Sim, a homeopatia da derrota, que me faça reagir:
EU NÃO SOU pe
nt
ac
am
peã
o
Rio, 11 de Julho de 2002