Mudez
Eu vos alumio agora, na veia dos excessos,
A funda cousa que me guia e que me inflama,
A orla obscura que atrás do peito se declama.
O que não possuo em falas, calo nestes versos.
No baldado discernimento de meu olhar arguto,
É que cresce, canta, a voz suave em meus retiros,
Na inalterável nota a solidão reprime meus suspiros,
E deste mal do espírito a poesia arqueia, se faz fruto.
É a vida em afasia que me desperta vil desgosto!
Prostrando-me na lapa triste, em sua brisa fraca,
A regalar-me entre os dentes, da terra o podre gosto.
Da pupila aos lábios pregam as lágrimas, feito laca,
A sinfonia espelha nas verdes órbitas de meu rosto,
E sequer um vivo sopro evade de minh´alma opaca!