coração de mulher

um carro novo importado

hormônios cíclicos

sei que esse perfume custa duzentos dólares

você viu aquele filme?

um arrepio na terceira harmônica da guitarra

toda essa grana me faz sentir bonita

e se as outras tiverem um ídolo mais forte?

(o que esse babaca escreve não é poesia)

não posso controlar o pensamento

o desgraçado sempre tenta me enrolar

sentido distorcido do perdão

uma pobre miserável – quê faria?

pletora de lágrimas solitárias

choro calculado pra comover

ah!, felicidade, ah!, seu louco,

ah!, que amor!, ah!, ah! aaaaaaaaahhh!!!

não vou mais chorar

não vou mais sofrer

deixa eu entender

o que significa amar

não entendo mais nada

quanto mais eu conheço

não – esse ama demais

não – esse ama de menos

esperar, esperar, esperar

– descobrir a essência para ser feliz

hoje ela sabe e quer se vingar

das mentiras que se contou

livre de odiar ou se iludir num sorriso sem sentido

volta à adolescência para recomeçar

tarde tira a máscara

que só lhe valeu infelicidades

ainda gosta sem saber porquê

ainda treme sem poder entender

ri ainda sem motivo

e teor alcoólico tem gosto de amor novo

sempre tem razão

embora sem argumentos

mas sempre cede à força

temerosa, confusa, volúvel

espera quem complete o rumo que perdeu

e sentir prazeres exóticos

em épocas próprias

suave, plenamente

erra, e esquece

tenho consciência de que fiz muito mal

mas não sei dizer

erra, e vai em frente

perde-se num olhar

num palácio

na rua

na prisão

crê que o ódio que sente

e que lhe sentem

é parte de todo amor

que vale a pena

suspira por um abraço

excita-se numa ausência

clama na injustiça

sofre, e sua dor tem a leveza de um sussurro

não me entendo

o prêmio dou a quem puder

e confunde grosseria com atitude

sabedoria com palavras melífluas

comete pecados lindos

e chora porque são pecados

e chora porque são lindos

e chora porque não os comete

morre em vida pelo que acredita ser amor

e se culpa e se perdoa pela metade

não obedece a seus princípios

e se lamenta por não os ter

ah!, se ele soubesse,

o que eu não sei dizer!

ah!, se ele adivinhasse

e me contasse o que eu sinto!

eu não fingiria mais

uma fuga estratégica

tentando lembrar

a primeira vez o que senti:

conter o infinito num instante

só ter certeza de estar viva

conhecer mal um sentimento

e bem uma palavra.

Leon Rebew
Enviado por Leon Rebew em 23/05/2005
Código do texto: T19031