Viagem de trem

Passarinho anunciou no jasmim

Que entre as montanhas de Minas

Preparas um ninho para mim

Com cerca, madeira pintada,

Varanda, balanço e jardim.

- Ô, passarinho matreiro,

Não mintas assim!

Teu lar, teus sonhos, teus filhos

Alegres, na porta, me esperam.

Doce no tacho, queijinho e polvilho.

Domingo, capelinha barroca,

Passeio, cascata, cascalho.

- Passarinho brejeiro,

Não zombes de mim!

Pois te confesso também

Muitas vezes, sonhando, me vejo

Num velho cenário de um trem

Cruzando fazendas, boiadas, cafés,

Querendo buscar outro bem.

- Xô, passarinho,

Não me tentes assim!

Levarei na mala pequena

Apenas o que mais me contenta:

Velho livro, água de cheiro,

Vestido leve, caneta tinteiro,

Velhas marcas em um coração aprendiz.

- Voa, voa, passarinho,

Como acreditar em promessas sem fim?

vitória Paterna
Enviado por vitória Paterna em 09/07/2006
Código do texto: T190326