Viagem de trem
Passarinho anunciou no jasmim
Que entre as montanhas de Minas
Preparas um ninho para mim
Com cerca, madeira pintada,
Varanda, balanço e jardim.
- Ô, passarinho matreiro,
Não mintas assim!
Teu lar, teus sonhos, teus filhos
Alegres, na porta, me esperam.
Doce no tacho, queijinho e polvilho.
Domingo, capelinha barroca,
Passeio, cascata, cascalho.
- Passarinho brejeiro,
Não zombes de mim!
Pois te confesso também
Muitas vezes, sonhando, me vejo
Num velho cenário de um trem
Cruzando fazendas, boiadas, cafés,
Querendo buscar outro bem.
- Xô, passarinho,
Não me tentes assim!
Levarei na mala pequena
Apenas o que mais me contenta:
Velho livro, água de cheiro,
Vestido leve, caneta tinteiro,
Velhas marcas em um coração aprendiz.
- Voa, voa, passarinho,
Como acreditar em promessas sem fim?