VOYEUR

Um corpo nu de mulher...

Madrugada alta, há muito os ponteiros

Estenderam sobre a cúpula celestial

O breu da noite

Numa janela próxima o prenúncio

De vida em movimento a luz acesa no

Quarto em passos lentos desloca-se

Sereníssima como a friagem que

Surpreende seu corpo em pêlo

Em suas vigas pensas não mais sibilam

Os sinos da juventude

Há alguns anos abandonara a escola

Do velho Balzac

Mesmo assim suas formas flácidas

Suscitavam uma beleza sincera

De quem não amarga as lágrimas do tempo

Percebeu que era avistada

Os olhares entrecortaram-se num hiato

Paralisado no tempo

Sem alarde afastou-se em pura calma

A luz do quarto silenciou

Mas permanecera acordada

Encerrada em meditações profundas

* * *

Goiânia, 10 de julho de 2006

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 10/07/2006
Reeditado em 17/07/2006
Código do texto: T190984